sábado, 26 de abril de 2008

Às Vezes o Paraíso

Se eu como ele, o meu amor
tão anterior assim ao próprio amor,
o cajado e a pele por simbólica mão,
e o perfume que em mim,
então,

talvez eu te fizesse
sentir sem que o soubesse,
ao certo,
a chamamento à noite, falar
muito de noite e nela adormecer.
Longuíssima e final. Mas nova sempre.
Reencarnando os tempos e as datas.

De memórias tão curtas. E do fim
mais final do esquecimento.
Ter encontrado há pouco coisa dada
há quantos anos? Trinta?
«Não te esqueças de mim.».


de Às Vezes o Paraíso

Ana Luísa Amaral
Anos 90 e agora
Uma Antologia da Nova Poesia Portuguesa
edições quasi

sexta-feira, 25 de abril de 2008



"Nessa primaveril madrugada de Abril, acordámos em liberdade, fomos chamados à vida, fomos apelados e projectados na história. Em Abril, aconteceu a Revolução, anunciadora de transformações políticas, económicas, culturais, sociais e educativas, profundas e totais. Uma Revolução encantada e alimentada pela ideia de mudança, durante tantos anos inibida e agrilhoada... Em cada dia, ecoará o 25 de Abril da liberdade e da democracia."

Este artigo foi escrito para assinalar o 13º Aniversário do 25 de Abril, em Vagos, no ano de 1987.

Tantos soldados que deram a vida pela liberdade deste país ...
Tenho orgulho em ser Português e orgulho em ser militar, 25 de Abril sempre fascismo nunca mais.

domingo, 20 de abril de 2008

O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros




O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros.
As tardes vão-se repetindo no terraço, onde as palavras
são pequenos lugares de memória. Estou divorciada dos
outros pelo tempo destas entrelinhas - longe de casa,
tenho sonhos que não conto a ninguém, viro devagar

a primeira página: em fevereiro, eles ainda faziam amor
à sexta-feira. De manhã, ela torrava pão e espremia
laranjas numa cozinha fria. Havia mais toalhas para lavar
ao domingo, cabelos curtos colados teimosamente ao espelho.
Às vezes, chovia e ambos liam o jornal, dentro do carro,
antes de se despedirem. As vezes, repartiam sofregamente
a infância, postais antigos, o silêncio - nada

aconteceu entretanto. Regresso, pois, à primeira linha,
à verdade que remexe entre as minhas mãos. Talvez os olhos
estivessem apenas desatentos sobre o livro; talvez as histórias
se repitam mesmo, como as tardes passadas no terraço, longe
de casa. Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém.



Maria do Rosário Pedreira
de A Casa e o Cheiro dos Livros