segunda-feira, 26 de novembro de 2007

"Escrevo por entre missivas
Feitas de pensamento,
Ideias, palavras que já vivi, ecoam perdidas
Nas linhas tortas do meu passado
Sonhos fugazes, alimentam-me
A ânsia de fazer o que fiz.
De viver aquilo que um dia me deu prazer
De fantasiar com aquilo que já tive.
A tinta jorra de mim descontroladamente,
No papel confidente em que me escrevo.
Aparecem progressivamente
Borrões pretos, disformes...
Pedaços de uma vida inútil
Que eu julgava enterrada
Bem no fundo de mim...
Porque é que não desapareces?
Não sei!
Talvez porque não queiras...
De certa maneira repudio e abraço
Um outro eu...
Mas não sei que fazer para lavar
O meu passado de mim...
Foi-me profundamente tatuado na epiderme
É uma parte integrante do meu ser!
Sofro da Síndrome de dupla personalidade.
Até agora controlei-me, não foi?
O passado não se esquece dizes tu...
Nunca te vai largar... nunca!
Aquilo que fizeste
Não tem desculpa possível.
Pois não, penso...
Rapidamente percebi o que devia ser feito!
Vou matar aquilo que fui,
O meu outro eu...
Já está!!!
Bastou uma só bala...
Uma bala no meio da testa."

Ricardo Malafaia

O Menino De Sua Mãe

"No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
– Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe."

Blink 182 The Party Song

domingo, 25 de novembro de 2007

Destinos

"Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
(...)
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos."